quarta-feira, 14 de janeiro de 2015




O JESUS ERRADO


Meu “cristianismo” era, aquela velha religião de se esforçar, trabalhar e muito para a instituição, ser um homem politicamente correto, e ser um apologista fervoroso, esperando que Deus talvez me dissesse um dia: “Bom garoto!”
Eu achava que se fizesse apenas coisas cristãs, teria paz na minha vida. Mas não funcionou.
Eu percebi que estava seguindo o Jesus “errado”; não que haja um Jesus “errado”, mas eu estava seguindo uma versão fake de Jesus. Demorei muito tempo para perceber isto, talvez uns 20 anos. Mas também aprendi algumas lições preciosas neste período.
Quando seguimos o Jesus “errado”, quase sempre nós julgamos, somos hipócritas e legalistas, ao mesmo tempo em que afirmamos seguir a um Jesus que perdoa, é autêntico e amoroso.
Quando seguimos o Jesus “errado”, distribuímos sopa aos pobres uma vez por ano e nos achamos o máximo por isso. A missão de Jesus relatada nos Evangelhos é muito mais ampla que o assistencialismo como vitrine para maximizar as receitas mensais da igreja evangélica.
Quando seguimos o Jesus “errado”, minimizamos a mensagem Bíblica para consumo público. O Jesus fake é mais seguro, pasteurizado e inofensivo. Jesus de Nazaré tinha uma mensagem radical, que muda a vida das pessoas de um modo integral. Hoje não dizemos às pessoas que elas necessitam de um Salvador, porque elas podem se zangar e parar de doar à igreja.
Quando seguimos o Jesus “errado”, (nosso inimigo agora é outro), nos entregamos às armadilhas do sistema, que é opressor, nos corrompe e nos faz vender a alma.
O Jesus "errado" dá voz para um mundo gospel da musicalidade toda voltada para dentro de umbigos que anunciam um deus dos "exércitos" que luta a causa daqueles que freqüentam e contribuem assiduamente nas reuniões da religião. Um deus da "vitória" que enche e preenche cestos de uma colheita totalmente estranha ao evangelho do Nazareno, uma colheita separada de toda solidariedade compassiva do evangelho de Cristo, uma colheita corrupta em sua raiz porque desconsidera o fato que Deus é amor, uma colheita egoísta e sórdida longe de todo espírito misericordioso e pacífico da vida do Deus encarnado, o Verbo que se fez homem e humanidade.
Quando seguimos o Jesus “errado”, todas as decisões que envolvem pessoas são tomadas em torno do deus Mamom. Aliás, bajulamos demais os ricos, sem levar em consideração que o dinheiro deles está sujo de arrogância, corrupção e exploração. Mas para Jesus de Nazaré existe uma lei que governa tudo: o amor.
O Jesus fake é uma marca. Este Jesus irreconhecível é o nosso plano de marketing. Nós abrimos igrejas, livrarias, criamos camisetas, pulseiras, adesivos de carro, tudo em nome deste Jesus. O cristianismo se tornou uma máquina financeira. Gosto da frase do filósofo contemporâneo Giorgio Agamben em uma entrevista onde afirma: “Deus não morreu, se tornou dinheiro.”
Quando andamos de mãos dadas com o Jesus “errado”, valorizamos mais a construção de um templo do que as pessoas que são templos do Espírito Santo.
Hoje ando de mãos dadas com um Jesus mais humano e menos Cristão. Um Jesus que é defensor das vítimas, aquele que convive com os pobres e acolhe os excluídos e combate a injustiça. O Jesus verdadeiro é amor para com os que sofrem e, precisamente por isso, é juízo contra toda injustiça que desumaniza e faz sofrer.
Não posso falar de religião sem citar Tiago: “Qualquer um que se considere “religioso” e fala demais está se enganando. Esse tipo de religião é mera conversa fiada. Religião de verdade, que agrada a Deus, o Pai, é esta: cuidem dos necessitados e desamparados que sofrem e não entrem no esquema de corrupção do mundo sem Deus.”
Minha oração sincera é que a Igreja Evangélica se converta a Jesus de Nazaré vivo e verdadeiro e se torne uma igreja que busca os “perdidos”. Uma igreja onde a mulher tenha voz. Uma igreja preocupada com a felicidade das pessoas, que acolhe, escuta e acompanha todos os que sofrem. Quero uma igreja de coração grande, assim como o coração do Pai.


© 2015 José Carlos Paes Landim e Carlos Eduardo Alves